E quem tinha blisters on his fingers não era o Lennon no final...
Sobre o dia em que eu vi um Helter Skelter e sobre como todo dia a gente aprende alguma coisa nova.
Em meados de Novembro, fui passar o final de semana em Galway, com o namorado. A gente já tinha ido para Connemara, visto todas as montanhas mais lindas que existem e feito as caminhadas mais pitorescas. Nessa ocasião, eu tava mesmo procurando um “city-break”, como a galera fala, e Galway é uma cidadezinha muito bonitinha mesmo. Fomos.
Chegamos, deixamos as coisas no BnB e fomos dar uma volta pela área. Já era tempo de Christmas Market, então a cidade estava 100% decorada para o Natal e tinha uma praça gigante só com comidinhas, barracas de artesanato, roupas, bebidas e presentes e, claro, um parque de diversões para as crianças. Entre os tantos brinquedos, passamos por um que me chamou a atenção. Parecia um escorregador de dois andares, um toboágua seco, sei lá, uma mini montanha russa sem carrinho. Tinha umas crianças saindo de dentro com uns tapetes na mão. Confusa, olhei o Pete e perguntei.
- que porra é essa?
- It’s a Helter Skelter! - Ele disse, calmo como quem não faz a menor ideia do que aquelas palavras significavam para a beatlemaníaca aqui…
- A Helter Skelter? Like in the Beatles song? - Disse eu, completamente descabeçada da cabeça.
- No, not like in the Beatles song, I’m pretty sure this exists way before the song. Aí ele começou a me explicar toda a funcionalidade do rolê, como sempre teve um Helter Skelter nos parquinhos que ele ia quando criança, que ele nem sabia da existência da música dos Beatles com esse nome (para desespero meu e, provavelmente, do pai dele também!), enfim… na minha cabeça tudo o que eu conseguia pensar era no John Lennon gritando “I’ve got blisters on my fingers”. Passou.
Agora eu estou lendo a biografia do Paul McCartney. Sempre é muito legal ler qualquer coisa que ele escreve ou ouvir ele contando histórias - me dá a sensação de que ele é só um vovozinho muito do bacana, contando detalhes da vida do maior rockstar do nosso tempo aqui na terra (que sorte a nossa). Não é realmente uma biografia, mas a história das letras das músicas do Sir Paul e, cara, altamente recomendado (sim, caro leitor, você já sabe, assunto para outro post). Cheguei em Helter Skelter e parei no seguinte parágrafo:
“A lot of people in the US still don’t know what a helter skelter is. They think it’s a roller coaster. It’s actually another fairground fixture - conical, with a slide around the outside. We went on them loads of times as kids. You’d walk up the stairs inside, and you’d take a mat - just like a doormat - and you’d sit on it and slide down, and then you’d walk up again. I use it as a symbol of life”.
Se algum dia eu tivesse a chance de falar com o Paul, eu ia adorar dizer pra ele que não é só nos Tads Unids que a galera não sabe o que é um Helter Skelter. Pelo menos nunca me passou pela cabeça que isso era alguma coisa até o dia em que eu vi um na minha frente. Acho que um mundo tão dominado pela língua inglesa faz dessas com a gente. Tem tantas palavras, expressões, ditados populares e até coisas do dia a dia que a gente só vai aprender mesmo quando vir um na nossa cara, não é mesmo? Como faz?
Depois dessa descoberta fantástica, ainda me peguei em outra particularmente surpreendente. Não é o John que grita que tem blisters on his fingers no final da música. É o Ringo! Eu talvez tenha perdido esse capítulo da beatlemania, mas eu tinha certeza absoluta que era o John que gritava isso e eles mantiveram assim. Nas palavras do tio Paul:
The recording process for ‘Helter Skelter’was endless, a feat of endurance. So much so that Ringo, at the end of it, shouted out something about having blisters on his fingers. I was that kind of session.
Já aconteceu com você, caro leitor? Porque eu com certeza tenho várias histórias dessas. Conta pra gente nos comentários - ou não, vai que?
As recomendaçõezinhas
Chegou a hora de dar umas dicas de coisas que gostei de ver por aqui (e por outros lugares) e vai que quem está aí do outro lado da tela goste também, não é não?
Leia antes de abrir suas redes sociais: uma reflexão super curta do
- que descobri graças a amigos por aqui do Substack, que me pegou de jeito essa semana, tentando fazer melhor uso do meu tempo.Furação nos olhos dela: é um poema do amigo
para a amiga Nathalia (da também sempre linda ). Eu li esse aqui quando saiu, e é lindo demais ver esse amor desses dois tão bonito, tão simples, tão forte, tão tão. Dos amigos de Brasil que eu quero dar um abraço (e conhecer a criança!) quando der uma passada por lá. Aliás, Daniel, volte pro Substack que sinto falta dos seus textos! =)A Series of Unfortunate Events: uma série sobre várias situações complicadas que acontecem com três crianças que recentemente se descobriram órfãs. Eu estava passando o fim de ano em Portugal, liguei a TV do AirBnB e, na tela do Netflix, vi a recomendação para “Uma série de desgraças”. Comecei a rir copiosamente. Eu tinha a impressão de que a tradução para o português brasileiro seria um pouco menos direta e, estava correta - Desaventuras em Série é mais legal sim. Enfim, terminei a série recentemente e, gostei demais. Dá uma aflição desgraçada no peito a cada vez que uma nova bizarrice tremenda acontece com esses três nenens queridíssimos, mas acho que a série ensina que, por pior que as coisas estejam, sempre, sempre existe algo legal acontecendo. A vida é mesmo assim, não é?
Fico por aqui, mas se inscreve aí para não perder as próximas. Ou não. Vai que?
AAAAAAAAAAAAAAAAAA VOLTAREI A ESCREVER <3